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[PERFIL] Ursula Nepomoceno: a representação das enfermeiras no Brasil

Publicada em 4 de março de 2021

“Sou muito comunicativa e gosto de cuidar das pessoas. Entendi que era isso que eu queria uma profissão em que eu pudesse fazer aquilo que eu gosto”, essa é a resposta dada por Ursula Nepomoceno quando perguntada o porquê escolheu ser enfermeira. Formada há 21 anos, pela Universidade de Brasília, Ursula tem um currículo de dar inveja. Além de mãe, esposa, especialista em enfermagem oncológica, professora, diretora do SindEnfermeiro-DF e possui experiências em unidade de terapia intensiva, clínicas médica e cirúrgica, saúde pública, pediatria, obstetrícia, gestão hospitalar e atualmente trabalha com dependência química e pessoas em situação de rua.

Enfermeira da Secretaria de Saúde (SES) desde 2002, já atuou na rede privada onde teve seu primeiro contato com pacientes com dependência química. Na SES, Ursula desenvolve atualmente um trabalho com a população em situação de rua e drogadição no Consultório Na RUA. O Consultório Na Rua (CNAR) é modalidade de prestação de serviços com o foco na saúde integral de pessoas que se encontram nessas condições. Formado por uma equipe multiprofissional, no Distrito Federal existem três equipes de CNAR. Elas atuam nas regiões de Ceilândia, Taguatinga e Plano Piloto.

O desafio de atender pessoas em vulnerabilidade

“Trabalhar com pessoas em situação de rua é um grande desafio”, destaca Ursula. Ela conta que a maioria das pessoas nessas condições são homens jovens e usuários de álcool e outras drogas (principalmente o crack). “Nós fazemos um papel de formiguinha todos os dias. Primeiro criamos vínculos, tentamos fazer com que eles confiem na equipe, depois fazer com que eles entendam a importância do autocuidado. É um trabalho diário”, afirma Ursula.

Ela aponta que outra dificuldade encontrada pelo CNAR é o fato da equipe não possuir um odontologista. “Quase todos os pacientes têm problemas graves em relação à higiene bucal. E a maioria dos profissionais das UBSs acham que esses pacientes, por não “possuírem um território”, não devem ser atendidos por eles”. De acordo com Ursula, “toda pessoa em situação de rua e que precisa de atendimento odontológico deve ser atendido pela UBS de onde ele está situado”.

Enfermagem e militância

“Dayse e eu somos amigas há muitos anos. Entramos na universidade juntas, em 1996, e sempre tivemos essa luta pela mulher, tanto da enfermagem quanto na política”, relembra Ursula. Para ela, o sindicato veio para somar à luta que ela tem por uma sociedade melhor, onde a enfermagem seja respeitada. “Nossa profissão é majoritariamente feminina, mas ainda sofremos muito preconceito dentro das unidades de saúde, no entanto, estudar e mostrar o poder que nós temos e a quantidade de coisas que desenvolvemos dentro da nossa profissão, faz com que as outras categorias tenham respeito por nós”, destaca Ursula.

De acordo com a profissional, o trabalho que ela desenvolve como diretora do sindicato tem ajudado no desenvolvimento de uma consciência política e social muito maior. “Hoje eu faço parte do Conselho de Saúde de Taguatinga, onde observo a luta pela melhoria na saúde da população do DF. Isso me faz perceber o quanto é importante as mulheres ocuparem espaços de poder. O SindEnfermeiro tem ajudado a entender esse movimento político que temos passado nesses últimos tempos”, pontua Ursula.

Aprendizado…

Ursula é direta sobre o que aprendeu nesse período trabalhando com pessoas em vulnerabilidade “atender pessoas em situação de rua tem me mostrado que nós conseguimos viver com o nada, conseguimos ser felizes – apesar de todo o sofrimento e dificuldades que essas pessoas passam -, mas eles me mostraram o tanto que nós precisamos mudar enquanto seres humanos”.

“Sou muito feliz por ser enfermeira, estou muito feliz em ser diretora do sindicato e lutar pela enfermagem. Agradeço demais por todas oportunidades, locais que eu trabalhei e todas as portas que foram abertas, principalmente por ter a honra de atender as pessoas em situação de rua, porque é um aprendizado diário”, finaliza Ursula.