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#CaraDeEnfermeira: carta aberta de uma enfermeira revoltada

Publicada em 3 de março de 2021

Chega! Nós sofremos uma negligência histórica, descaso total e falta de respeito. As pessoas não nos conhecem. Por que existe um grande esforço dos formadores de opinião e dos lobistas políticos em manter escondida a potência transformadora da gigante chamada enfermagem?

Enquanto estávamos tão preocupados no projeto coletivo da saúde como bem maior do ser humano e dedicávamos nossas vidas profissionais ao cuidado sistematizado e científico, não percebemos que o plano orquestrado para nos afastar dos espaços de poder e subliminarmente fazer acreditarmos que a enfermagem ocupar esses espaços era menos importante.

Recebemos “tapinha” nas costas durante a semana da enfermagem e pronto! Quem precisa de 30h? Piso salarial digno? Repouso decente? Insalubridade? Plano de carreira, isonomia de tratamento e salário? Para que anjos e seres tão evoluídos precisam disso tudo?

As maiores cúpulas de gestão em saúde mundo chamam a atenção para a necessidade de investimento no protagonismo político, atuação com autonomia e ocupação nos cargos de gestão para enfermagem. Eles perceberam que uma das saídas mais importante para acesso à saúde com qualidade e equidade é a enfermagem nos espaços de poder e decisão, pois somos capazes de mudar panoramas de saúde em todos os países.

Chega! Que país é esse que num contrassenso mundial tem rotineiramente esse tipo de pensamento veiculado por políticos e formadores de opinião? Que país é esse que diariamente tem casos de assédio, maus tratos, e total falta de isonomia de tratamento à enfermagem?

Não precisamos ir muito longe, aqui no Distrito Federal, capital do país, o governador e os gestores da saúde têm ciência que os enfermeiros recebem o menor salário entre todos os profissionais de nível superior da rede pública. Trabalham com dimensionamento absurdo e total falta suporte nos serviços, que na maioria das vezes são geridos por “colegas” da alta cúpula do Buriti ou dos nobres deputados.

Por ausência de uma lei maior que garanta um piso salarial digno, temos uma convenção covarde e surreal com um “piso” de aproximadamente 1600 reais para profissionais que têm uma responsabilidade enorme e uma formação baseada numa assistência científica. Inclusive, a propaganda dos donos de hospitais deixa explícita a vitória dos lobbys em cima da enfermagem. “Barramos piso salarial dos enfermeiros da rede privado do DF, conseguimos ganhar os dissídios que nunca dão em nada para trabalhadores, seu não precisamos nos preocupar com repouso para enfermagem, todos os anos conseguimos segurar aumentos salariais que mal cobrem inflação do anual”.

O Distrito Federal apenas exemplifica e perpétua a verdade de um país que nesse momento só nos envergonha, não pelo seu povo ou por sua grandeza, mas por essa nojeira que impera conscientemente na política, administração e reverbera em um povo cansado e alienado.

Esse é um desabafo de uma enfermeira de verdade! Que tem cara de enfermeira, que com muita dificuldade estudou muito para ser enfermeira, que tem consciência de tudo que é e o que pode fazer como enfermeira.  Esse é o desabafo de uma enfermeira consciente, que também é professora e que sempre disse aos seus alunos “façam o seu melhor, pois vocês podem mudar o mundo com sua atuação!”.

Esse é o desabafo de uma mulher que muitas vezes teve sua fala represada e desrespeita, de uma esposa e mãe que com dor no coração olha para seu  esposo e filho à noite, quando estão dormindo, e sente culpada por estar ausente.

Esse é o desabado de filha que muitas vezes não conseguiu acompanhar sua mãe ao hospital, mas teve a certeza que seus colegas da enfermagem cuidaram, acolheram e deram o melhor atendimento a sua mãe. Esse é o desabafo de amiga que há quatro anos ou mais quase não tem mais amigos, que sente falta dos colegas de trabalho, de estar lado a lado na assistência carregando o peso de trabalhar com tantas dificuldades.

Esse é o desabafo de uma representante que está passando pela gestão de um sindicato e entendeu que a maior responsabilidade da sua vida é representar essa categoria tão magnífica, mas que desconhece seu real potencial.

Chega! Não dá mais! Que o repúdio e a revolta que agora queimam no meu coração, e aumentam em situações como essas, sejam combustíveis capazes de não me calar quando fico triste, desanimada e me sinto só. Que sejam combustíveis para enfrentar todas as ameaças e palavras de desânimo que buscam me calar ou fazer desistir. Que esse combustível extravase e chegue a você enfermagem!

Que nós possamos segurar as pontas, mas nos preparemos para o contra ataque que certamente terá sua hora e que ao mesmo tempo façamos a diferença com consciência política e social onde estivermos! Você que é enfermeiro, tem cara de enfermeiro e também está revoltado, compartilhe essa mensagem!

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