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Enfermeiros lembram colegas mortos pela Covid-19 e protestam por melhores condições de trabalho em ato histórico no Museu Nacional

Publicada em 12 de maio de 2020

Na tarde da última terça (12), Dia Internacional da Enfermagem, profissionais de várias capitais brasileiras fizeram atos para lembrar os enfermeiros que perderam suas vidas no combate à Covid-19, além de protestar contra a negligência histórica sofrida pelos profissionais – que lutam há décadas por demandas como o piso salarial e a jornada de 30 horas semanais.

Em Brasília, os enfermeiros organizaram uma vigília no Museu Nacional da República, que teve início às 17:30, e contou com o apoio de entidades representativas como o Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF), do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem (SINDATE), do Conselho Regional de Enfermagem (COREN-DF), do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e da Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE).

Durante o ato, que respeitou os protocolos de distanciamento social entre os participantes, os enfermeiros acenderam velas para os colegas que morreram atuando no combate à Covid-19, além de trazer placas com o nome de todos os profissionais – segundo dados do COFEN, já são 108 óbitos, e mais de 10 mil infectados entre enfermeiros, técnicos e auxiliares em todo o Brasil.

“Nós queremos que a luta dessas pessoas não seja em vão”. Com essas palavras, a presidente do SindEnfermeiro, Dayse Amarílio, sintetizou a importância de lembrar os profissionais mortos não apenas como números, mas como pessoas que sacrificaram suas vidas pela população brasileira. Para ela, os dados alarmantes também são fruto de uma negligência histórica sofrida pelos enfermeiros, e que os parlamentares deveriam estar mais atentos às reivindicações da categoria.

“Nós não temos as 30 horas (de jornada semanal), não temos um piso salarial regulamentado e sequer o direito a um local para descanso digno, além de enfrentarmos  a precarização do trabalho, não temos leis que nos ampare”, afirmou.

Dayse aponta, ainda, um fator adicional: a maioria dos profissionais de enfermagem são mulheres, que além de estarem submetidas à jornadas de trabalho exaustivas, ainda precisam fazer jornada dupla no lar, visto que existe uma gritante dicotomia de gênero no Brasil.

Marco na história da enfermagem brasileira

A enfermeira Marcela Vilarim, uma das organizadoras, ressalta que a data, apesar de um marco na luta dos enfermeiros, também é um momento de pesar pelos profissionais que perderam suas vidas no combate à Covid-19.

“Com esse ato, nós conseguimos marcar a enfermagem brasileira, infelizmente de uma forma ruim com o número de colegas mortos – o que pessoalmente pra mim é muito ruim. Me emocionei em vários momentos, porque é difícil pensar que o nosso nome poderia estar lá”, afirmou.

Simone Fidélis, enfermeira há mais de 20 anos, também lamentou as circunstâncias nas quais os protestos estão ocorrendo, mas aponta a data como um marco nas lutas da categoria. “Tenho certeza que esse ato vai representar muito para a enfermagem brasileira, no sentido de dar mais valorização e reconhecimento (à categoria)”.

Homenagens nas redes sociais

Com as hashtags #EnfermagemEuValorizo e #LuteComoUmaEnfermeira, profissionais de saúde, artistas e influenciadores digitais de todo o país manifestaram sua solidariedade à categoria, através de publicações nas redes sociais durante todo o dia. O ato virtual foi convocado por enfermeiros e entidades representativas para prestar uma homenagem a todos os profissionais que estão na linha de frente do combate ao coronavírus.

Entre os artistas que participaram da mobilização estão os cantores Nando Reis e Leo Jaime, as atrizes Nanda Costa, Cláudia Raia e o ator Rômulo Estrela, além do influenciador digital Hugo Gloss.

Apoio dos parlamentares ao Ato Virtual

Assim como celebridades e influenciadores digitais, diversos parlamentares participaram do ato virtual e prestaram homenagens aos trabalhadores da enfermagem. O deputado distrital, Jorge Vianna (PODE), que é enfermeiro e técnico em enfermagem, destacou em suas redes sociais a importância desses profissionais para a saúde do Distrito Federal.

A deputada distrital Arlete Sampaio (PT) manifestou seu apoio aos profissionais, e desejou “que cada vez mais possa ser mostrada a importância dessa categoria para o Sistema Único (de Saúde), e sobretudo para a população brasileira”. Já o deputado distrital Leandro Grass (REDE) ressaltou a atuação da enfermagem no contexto atual de pandemia, afirmando ainda que o elevado número de profissionais mortos poderia ter sido evitado se os profissionais trabalhassem em condições adequadas. Outros parlamentares como Júlia Lucy (NOVO), Fábio Félix (PSOL), Chico Vigilante (PT) e os deputados federais, Flávia Arruda (PR-DF), Érika Kokay (PT-DF), David Miranda (PSOL-RJ) e Celina Leão (PP-DF) , também manifestaram seu apoio à enfermagem por meio de suas redes sociais.

O deputado federal, Célio Studart (PV-CE), esteve no ato e ressaltou em uma rede social a importância da enfermagem para o Brasil. “O Brasil está em débito com a enfermagem. É nessa horas que vemos a importância dessa classe. [Os trabalhadores] merecem mais que palmas, merecem respeito, merecem a aplicação dos direitos devidos, dos direitos que precisam para exercer bem o seu ofício”, completou o parlamentar.  Célio Studart é presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Enfermagem no Congresso Nacional.

Carta à Câmara Federal

Os participantes do ato fizeram uma carta que será encaminhada à Câmara dos Deputados. No documento relata a realidade que a enfermagem brasileira enfrenta desde antes da pandemia do novo coronavírus, mas que piorou com o avanço da doença. Além de falar das condições que os profissionais estão sendo submetidos, a carta também trás algumas pautas pelas quais a enfermagem espera há anos, entre elas o projeto de lei que define um piso salarial nacional para todos esses profissionais, o projeto de lei das 30h/semanais – em tramitação há cerca de 20 anos, além do projeto que regulamenta a aposentadoria especial com 25 anos de trabalho insalubre.

Confira aqui a Carta para a Câmara Federal.