Fingindo ser advogado do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiros-DF), um golpista passou a atacar profissionais de enfermagem pedindo dinheiro em pagamentos por Pix.
O estelionatário conseguiu acessar processos judiciais dos enfermeiros, incluindo casos em andamento e arquivados, e passou a ligar para cada filiado pedindo Pix para a liberação de dinheiro das causas.
Para enganar as vítimas, o golpista fingia ser o advogado do sindicato, Davi Espirito Santo de Souza. O Metrópoles teve acesso a uma gravação mostrando a ação do estelionatário.
Segundo o SindEnfermeiro, pelo menos três enfermeiras foram vítimas do golpista. Nas ligações, o criminoso cobra valores entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. O valor do golpe seria para pagar um inexistente perito judicial necessário para garantir a liberação do dinheiro ganho em causas judiciais.
O Metrópoles conversou com uma vítima. A enfermeira pediu para ter a identidade preservada, por isso será chamada pelo nome fictício de Fernanda*. Ela transferiu aproximadamente R$ 3 mil por Pix ao estelionatário. “É uma vergonha ter caído nesse golpe. Me safei de tantos outros e caí neste. É muita decepção”, lamentou.
Escute o áudio do advogado estelionatário
Nos primeiros dias deste mês de outubro, Fernanda estava em casa, quando recebeu uma mensagem por aplicativo informando que um processo dela havia sido finalizado e ela tinha ganhado a causa.
“A pessoa me ligou se identificando como o advogado do sindicato. Disse que eu precisava de um perito judicial. Ele foi muito habilidoso. O golpe é em cima do honorário do perito”, contou.
O criminoso convenceu Fernanda. “Ele sabia meus dados bancários, os nomes dos meus pais, meu endereço, meu telefone, minha conta bancária, minha agência de banco. Foi supereducado e tranquilo”, explicou.
Logo após fazer o Pix, Fernanda ligou para o sindicato. Ao falar com um funcionário, veio a decepção. “O menino disse: ‘a senhora acabou de cair é um golpe. É a terceira enfermeira que caiu hoje’”, relatou.
Fernanda pediu para o banco a anulação do Pix, mas apenas R$ 2,41 voltaram. A conta de depósito foi esvaziada. Ela chegou a pedir o reembolso, mas a instituição financeira negou. “Há um vazamento de informação. Espero que nossos dados sejam melhor guardados”, afirmou.
O Sindicato e as vítimas registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil (PCDF). Segundo o SindEnfermeiro, o departamento jurídico da entidade não solicita depósito de dinheiro.
Se por acaso o filiado receber uma ligação ou mensagem no WhatsApp solicitando depósito de dinheiro, a recomendação é não depositar e entrar em contato imediatamente com o sindicato.
“Qualquer pessoa que tenha acesso ao sistema de processos consegue acessar os dados. Os processos judiciais são, em sua maioria, públicos. Todos têm acesso. Não tem como colocar todos em segredo de Justiça, pois quem define esse quesito é a própria Justiça. Contudo, o Poder Judiciário já tomou algumas medidas de segurança, como colocar todos os precatórios em segredo. Mas, logicamente, diante do ocorrido, fica clara a necessidade de mais medidas que garantam a segurança de todos que utilizam a justiça brasileira”, argumentou o sindicato, em nota.
Atualmente, o sindicato acompanha 800 processos judiciais que estão em andamento. Mas existem centenas arquivados. No total, são mais de 1,5 mil causas.
Segundo o sindicato, até a tarde de sexta-feira (20/10), a identidade real do golpista era desconhecida. Para a instituição, existem fortes indícios de que se trata de um grupo criminoso.