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1º de maio de 2020, um marco para a enfermagem do Brasil

A manifestação do dia 1º de maio buscava chamar a atenção para os problemas que a enfermagem brasileira está sofrendo e que se agravou diante da pandemia de Covid-19. Ela ganhou visibilidade nacional quando apoiadores do governo agrediram os participantes do ato.

Publicada em 27 de maio de 2020

Brasília, 1º de maio de 2020. A data marca o Dia do Trabalhador em diversos países do mundo. No entanto, esse ano uma classe de trabalhadores ficou em evidência: os trabalhadores da enfermagem. 2020 é o ano em que o mundo foi assolado por um inimigo invisível a olho nu, mas extremamente mortal, um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2.

A enfermagem é a categoria que cuida do paciente em todos os estágios da vida. Na pandemia de Covid-19 não é diferente. Por estar na linha de frente, também são é a primeira a ser atingida. Pensando em todos os profissionais da enfermagem que tinham perdido a batalha para o novo coronavírus, um grupo de enfermeiras de Brasília decidiu fazer um protesto silencioso na Praça dos Três Poderes no Dia do Trabalhador

As enfermeiras Marcela, Leidijany e Cintia se inspiraram em colegas de profissão dos Estados Unidos, que foram para frente de faixas de pedestres, em silêncio, chamar a atenção para o número de profissionais que estavam morrendo e para a importância do isolamento social.

Várias carreatas e a enfermagem nos hospitais lutando pela vida das pessoas

“A ideia surgiu após eu ter ido algo sobre enfermeiros que estavam trabalhando nos hospitais em Denver, nos Estados Unidos, e se colocaram na frente de carreatas que solicitavam a liberação das restrições de circulação na cidade devido a Covid”, revelou a enfermeira Cintia Tanure.

A situação que Cintia relatou foi o protesto silencioso, feito por uma enfermeira e um enfermeiro que resolveram enfrentar os carros, parando em frente a alguns deles. O protesto ganhou muita visibilidade nas redes sociais e chegou a ser noticiado em diversos sites pelo mundo.

“Achei absurdo… Coloquei numa das minhas redes sociais e a Marcela – Vilarim – me perguntou onde eram as manifestações e começamos a conversar sobre o assunto, sobre o quanto nos causava tristeza a enfermagem estar lutando por vidas e as pessoas na rua”, relembrou Cintia.

“Me causou mais indignação porque nesse mesmo dia, aqui em Goiânia passou perto do meu prédio uma carreata pedindo a liberação do comercio. Estavam acontecendo várias carreatas dessas no país e a enfermagem trancada nos hospitais lutando pela vida das pessoas”, finaliza.

Dia do Trabalhador, uma data simbólica

De acordo com Leidijany Paz, uma das idealizadoras do ato, a escolha da data não foi por acaso, uma vez que aquele era um dia muito simbólico. “Nós estávamos vivendo uma expansão do adoecimento dos trabalhadores, nossos colegas indo a óbito e principalmente as condições que eles estavam enfrentando”, destacou a enfermeira.

Depois do surgimento da ideia, era necessário colocá-la em prática. Foi então que as profissionais entraram em contato com diversas instituições, entre elas o SindEnfermeiro e o COREN. “Contamos com a ajuda dessas instituições e elas nos deram diversas sugestões. Nós acreditávamos que iríamos fazer um movimento bonito, que esses órgãos que nos ajudaram iriam fazer a divulgação do ato entre a categoria, e talvez na mídia local”, completou Leidijany.

Agressões contra os manifestantes

O que nenhuma das idealizadoras do ato podia esperar era a atitude de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Durante a manifestação silenciosa, enfermeiras, enfermeiros e técnicos de enfermagem seguraram cruzes e tinham o nome das 60 vítimas da Covid – até aquele dia. Até que o silêncio foi quebrado por xingamentos, ameaças e agressões físicas e verbais por parte dos defensores do presidente.

“Esperava sim que o ato fosse mostrado, mas pelo que ele representava e não pelas agressões espontâneas que meus colegas receberam. Queria que a nossa visibilidade fosse devido ao ato, mas infelizmente foi por conta de pessoas que não entenderam nada do que estava acontecendo, e resolveram repudiar. As notícias tiveram um alcance enorme e a enfermagem foi divulgada, mas associada a agressões e isso me deixou profundamente triste”, pontuou Cíntia.

O Ato do Dia do Trabalhador pode ser considerado um marco na história da enfermagem brasileira. Para Leidijany, essa é uma memória que ela vai guardar para o resto da vida. “Nunca imaginei a repercussão dessa manifestação. Cada uma daquelas pessoas que nós homenageamos é a ponta do iceberg, e representam os profissionais que o Brasil perdeu. O ato foi um marco histórico para o país e para a minha formação. Apesar das agressões, foi bonito e marcante”, finalizou.

Depois dessa manifestação diversas categorias, influenciadas pela enfermagem, também fizeram manifestações por outras partes do Brasil. Trabalhadores que também foram afetados pela pandemia de Covid, usaram o ato do Dia do Trabalhador como exemplo e fizeram seus protestos.

As agressões sofridas pelas trabalhadoras e trabalhadores no dia do ato, ganharam o noticiário local, nacional e internacional. Jornais e revistas de todo o país noticiaram a violência contra os profissionais que estão na linha de frente contra o novo coronavírus. No entanto, o debate sobre a desvalorização da enfermagem começou a ser debatido pela mídia. Programas de televisão começaram a falar sobre a falta de piso salarial da categoria, jornada de trabalho não regulamentada, falta de equipamentos de proteção…

Os movimentos #LuteComoUmaEnfermeira e #EnfermagemEuValorizo ganharam as redes sociais e foram compartilhados por cantores, atrizes e atores e diversas celebridades que chamou a atenção para a falta de valorização da enfermagem no Brasil.