(Confira o vídeo completo em HD aqui).
Um grupo de alunos e professores do curso de Mestrado Profissional em Ciências para a Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) produziu um vídeo voltado especialmente para enfermeiros, médicos e obstetras, com o objetivo de incentivar a adesão à Lista de Verificação do Parto Seguro – guia criado pela OMS em 2015 que traz uma série de recomendações e metodologias a serem aplicadas durante os estágios da gestação.
O objetivo principal da lista é orientar e direcionar a atuação dos profissionais envolvidos no parto, no sentido de trazer maior segurança aos procedimentos a serem realizados – promovendo, assim, o aperfeiçoamento da assistência, e evitando que ações importantes deixem de ser realizadas. A lista é dividida em quatro estágios: durante a admissão no hospital, no início do trabalho de parto, uma hora após o nascimento da criança, e antes da alta.
Uma das idealizadoras do vídeo é a enfermeira Arlete Rodrigues Chagas, 51 anos. Arlete é professora de graduação em enfermagem pela ESCS, e aluna de mestrado profissional em saúde da mulher – também pela instituição. Para ela, a participação da comunidade acadêmica na promoção e incentivo ao uso da lista é importante, pois seu uso se mostrou comprovadamente efetivo para a redução dos indicadores de mortalidade materna e infantil.
“A lista de verificação do parto seguro é um instrumento simples e eficaz, de baixo custo, que além de assegurar a realização de cuidados importantes, torna mais efetiva e direta a comunicação, e interfere de maneira positiva na coordenação entre os membros das equipes envolvidas na assistência às mães e aos bebês”, afirma Arlete.
Para ela, promover a adoção de práticas mais humanizadas também favorece a atuação dos profissionais, pois auxilia na orientação dos procedimentos a serem tomados visando um parto mais seguro, e com menor risco de complicações posteriores.
“Há evidências científicas da colaboração da lista para que os profissionais de saúde não deixem de realizar práticas de efetividade comprovadas. Ao recordá-los de executar a higienização das mãos, fazer o gerenciamento de uma infecção e avaliar o sangramento pós-parto, por exemplo, a lista evita que se deixe de fazer ações importantes, e promove o aperfeiçoamento de procedimentos da admissão até a alta”, completa.
A enfermeira obstetra Gerusa Amaral, 66 anos, que participa do vídeo, aponta a importância de abordar a temática do parto seguro de forma lúdica e simples, ressaltando que todos os profissionais envolvidos em um trabalho de parto se tornam responsáveis pelo seu êxito e pela garantia das condições ideais para a mulher.
“[O vídeo] é um instrumento que veio para ajudar a consolidar os cuidados que devemos ter durante um parto, apontando também para a importância do envolvimento e da responsabilidade que é a prestação da assistência. Todos os servidores, desde ao acolhimento até a alta, são responsáveis para que essa mulher possa entrar e sair com seu bebê da instituição”, afirma Gerusa.
Cultura das intervenções desnecessárias favorece aumento da mortalidade
O Brasil é responsável por cerca de 20% das mortes maternas em todo o mundo, segundo cruzamento de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), feito em 2017. Grande parte delas poderia ser evitada com a adoção de práticas mais seguras, melhor acompanhamento e um maior empoderamento da gestante.
Para a presidente do SindEnfermeiro-DF, Dayse Amarílio, a enfermagem tem papel fundamental nessa mudança de mentalidade, pois sua atuação proporciona um maior nível de autonomia para a mulher durante o parto.
“A importância do profissional de enfermagem, nesse contexto, está cada vez mais sendo reconhecida – em especial a enfermagem obstétrica, que vem resgatando profundamente a premissa da gestante como protagonista do parto, fator esse que auxilia de forma visível na melhora dos indicadores de assistência”, afirma.
Apesar da redução dos índices de mortalidade registrados nas últimas duas décadas, o Brasil registrou em 2018 mais de 50 mil mortes decorrentes de complicações no parto, ou por falta de acompanhamento adequado durante a gestação, segundo dados do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) do Sistema Único de Saúde (SUS) – sendo que 92% desses óbitos são motivados por causas evitáveis, de acordo com o Ministério da Saúde (MS).
Além das causas fisiológicas, como a hipertensão, hemorragia pós-parto e problemas causados por distúrbios como a diabetes, um dos fatores que impulsionam o aumento das taxas é a falta de estrutura para a realização do acompanhamento pré-natal – sobretudo nas regiões menos urbanizadas do país.
O Brasil tem, ainda, uma das maiores taxas de partos por cesárias do mundo – sendo grande parte por conta das intervenções eletivas, ou seja, que são feitas mesmo quando o parto não oferece risco à mãe ou ao bebê. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a cesária eletiva aumenta em sete vezes o risco de complicações como infecções ou perda do útero, além de triplicar o risco de morte da gestante.
Segundo Arlete, apesar da evolução de metodologias empregadas na obstetrícia, “o parto e o nascimento ainda são considerados como manifestação de doença, submetendo cotidianamente as mulheres e recém-nascidos a um elevado número de intervenções que só deveriam ser realizadas mediante extrema necessidade”, aponta.
A enfermeira analisa, também, a importância de favorecer o acesso das gestantes à informação, no sentido de dar uma maior autonomia de decisões no que diz respeito a sua saúde. Para ela, é necessário que a mulher tenha participação ativa em todo o processo do parto, respeitando os direitos básicos de cidadania e oferecendo a assistência com base em evidências científicas.
“Favorecer o acesso às informações garante à mulher uma maior autonomia para fazer escolhas de forma mais consciente e participativa. Nesse sentido, a informação recebida é fator de extrema relevância para aumentar seu protagonismo”, finaliza.