O Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF) vem por meio desta nota repudiar mais um ataque promovido por supostos “jornalistas” e blogueiros adeptos da desinformação como método de trabalho. O youtuber Alfredo Bessow, dono do “Canal de Brasília”, publicou nesta sexta (11) um vídeo recheado de insultos e inverdades aos enfermeiros, ao SindEnfermeiro e à luta histórica da categoria por um piso salarial digno e as 30 horas.
A princípio, é necessário esclarecer alguns pontos importantes, para que fique evidenciado o quão graves são as afirmações de Alfredo:
A paralisação será de apenas 1 hora, e não será feita apenas pelos profissionais da rede pública. A população não será prejudicada, pois como previsto em lei, deve haver um efetivo mínimo de profissionais trabalhando normalmente. Nossa intenção não é prejudicar a população, e sim buscar melhores condições para atendê-la com a atenção e a qualidade que merecem.
Ao centrar seu alvo nos servidores da Secretaria de Saúde, Bessow se esqueceu da dura realidade enfrentada pelos profissionais da rede privada, que chegam a trabalhar em até três turnos para receber menos do que o piso proposto pelo PL 2564/20, nossa luta maior. Alfredo não colocaria sua vida em risco diariamente para salvar pessoas que ele nem conhece por R$ 2 mil, mas acha justo criticar a luta de quem o faz.
Também é preciso dizer que Alfredo certamente não seria capaz de cuidar de cerca de 100 pacientes em um único plantão, e sozinho – além de também não ter a menor ideia da realidade nos hospitais da rede. Mas são justamente os enfermeiros do serviço público que se desdobram de tal maneira, para que a população não fique desassistida. O dimensionamento de pessoal dentro das unidades de saúde é precário, e o chamamento de novos servidores para ajudar no trabalho caminha em passos de tartaruga.
Na rede pública do DF, a disparidade entre o salário dos enfermeiros e a categoria dos odontólogos na SES, por exemplo, é de 28,12%. Além disso, um médico em início de carreira na SES ganha o dobro de um enfermeiro na mesma situação, e os tais vencimentos seguem sem reajuste desde o ano de 2014. Detalhe: nem este reajuste foi aplicado ainda, já que o ex-governador Rodrigo Rollemberg vetou a pauta.
Além disso, o ato criminoso de associar a luta sindical com os horrores do fascismo nos obriga a lembrar ao youtuber que, ao fazer afirmações mentirosas e tentar manipular a opinião pública para conseguir seus objetivos, faz com que sua “opinião” remeta exatamente a uma das principais táticas usadas por Mussolini e seus seguidores durante as décadas de 1920 e 1930. Fazer o mesmo para desqualificar uma luta tão importante não parece ser uma ideia de quem se importa de verdade com os valores democráticos.
Alfredo, pense nos quase 800 guerreiros da Enfermagem mortos em decorrência do coronavírus antes de simular que está preocupado com o ritmo de aplicação das vacinas. Se os profissionais estão morrendo por causa do vírus, do cansaço e até de depressão, quem vai aplicar a vacina? Quem vai atender a população? Podemos contar com sua ajuda para isso? É bem provável que não.
Infelizmente o nosso amor pela profissão, sozinha, não paga o cansaço físico e mental, a distância da família, o constante risco de vida e outras questões ignoradas, que evidenciam a falta de conhecimento de Alfredo sobre os reais motivos das mobilizações da Enfermagem.
Canalhice de verdade é usar uma pauta legítima para colocar a Enfermagem contra a população. Chantagem é o que os grandes empresários do setor médico-hospitalar fazem no Congresso há mais de três décadas para que seja negado o nosso direito.
Por fim, o SindEnfermeiro-DF afirma que nos próximos dias serão tomadas as medidas judiciais cabíveis contra as ofensas proferidas pelo blogueiro aos trabalhadores, à entidade e seus dirigentes, e ressalta que ataques como os realizados hoje são apenas mais uma demonstração de que a nossa luta não pode parar.
Alfredo, antes de se colocar num papel tão humilhante, siga o lema de seu canal, e “busque a informação” ao invés de promover calúnias contra uma categoria que está no direito de se mobilizar. Mas principalmente, aprenda a ter respeito pela luta do próximo. Direito à opinião não é carta branca para baixaria.
Em apoio a esta nota, assinam as seguintes entidades:
Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Norte (SINDERN)
Sindicato dos Enfermeiros no Estado do Espírito Santo (SINDIENFERMEIROS-ES)
Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (SERGS)
Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Minas Gerais (SEEMG)
Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Paraíba (SINDEP)
Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo (SEESP)
Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Sergipe (SEESE)
Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (SEEB)
Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE)
